quarta-feira, abril 22, 2009

Depois; por Daniel Monteiro.

Depois que a dor cessou, ficou tudo escuro por um tempo. Eu senti medo e certo alívio, porque a dor antes era insuportável, pensei que fosse morrer. A claridade ia aumentando aos poucos e pude começar a ver pequenos vultos ao meu redor, havia uma ambulância, carro do bombeiro e muitas pessoas ao redor. Ao redor do que? pensei eu. Andei lentamente até o aglomero e vi o que todas aquelas pessoas olhavam, arregaladas. Um corpo jazia no chão. Ninguém pareceu se incomodar com a minha passagem, ninguém sequer percebeu a minha presença, salvo uma menininha de cabelos castanhos, escondida atrás das pernas do pai.

Aproximei-me para ver o que estava acontecendo e estranhei estar fora do carro. Não lembrava sequer de ter saído dele. Olhei pro lado e vi um carro, idêntico ao meu, estatelado em um poste de luz, que estava rachado ao meio. E então, lembrei. Lembrei do buraco, lembrei da freada, lembrei da dor no peito e do silêncio. Logo depois veio a escuridão e então, eu estava ali. Cheguei próximo, muito próximo, do corpo que estava ali no chão e ninguém barrou minha passagem. Olhei atentamente para aquele rapaz irreconhecível. Mas me reconheci.

Fui tomado por uma onda de desespero e uma dor estranha assolou em meu peito. Sim, estranha, porque incomodava demais, mas não doía. Pensei na minha irmã, fechando os olhos e, no instante que abri, estava no quarto dela, vendo-a chorar silenciosamente com o telefone nas mãos. Corri até ela e a abracei. Sua respiração tinha tornado mais suave, como se ela pudesse ter sentido minha presença ali perto. Seria mesmo possível? Que caminho eu teria que tomar agora? Quais as coisas à fazer?

Corri para a mãe, ou voei para lá, não sei. Fora rápido, isso fora. Coisa de piscar de olhos. A mãe estava desolada e a dor dela, salpicava manchas em minha alma, salpicava manchas em mim. Eu não suportava ver as pessoas que amava sofrendo por minha causa, não suportava causar dor à elas e tentava, sem muito sucesso, acalmar o coração de cada uma delas, tocando meus dedos na face e secando, em vão, suas lágrimas. Um buraco se abriu bem no meio de mim. Eu era um abismo. Eu estava, sem querer, machucando as pessoas.

Era noite, já, quando me deparei em outra sala, repleta de flores e velas. E parentes. E amigos. E alguns conhecidos, amigos do pai, amigos da mãe, amigos da irmã. Várias pessoas que eu amava estavam lá, rezando. Senti paz. O buraco não mais me agoniava e, com o tempo, enxergava uma nova luz, branca, forte. Ainda naquela sala, enxerguei a vó, enxerguei o vô. Mas não queria ir para junto deles, não podia. Tinha de me despedir.

Quando já era dia e o sol já estava à pino, botaram uma caixa em um buraco e cada um daqueles que se encontravam lá tomaram seus rumos. E eu tinha que tomar o meu. Mas ainda faltava alguma coisa e então, pensei nelas. Nas três moças que eu abandonara no sul. E, naquele dia, viajei ao encontro delas...

2 comentários:

  1. Que triste!

    =/

    Eu não tenho nem muito o que falar. Mas percebo que a saudade é imensa, que não cabe mais.

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  2. Demais .. é pocoo
    Maravilhosoo, nas letras, nas palavras voçe transpareçe uma angustia, uma dor latente.. demais mesmo
    So o fim que nao entendi muitoo bem
    Mas demais .. so um pedido .
    Continue escrevendoo
    UAUUHAHUAUHUHA
    Beijaoo

    .

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