quarta-feira, maio 06, 2009

24 de janeiro de 2008 - enterro.

Meu dia amanheceu cinza. Chovia lá fora e chovia aqui dentro. Era doloroso demais pensar na tua partida, no teu adeus definitivo, sendo que tinhas toda uma vida pela frente. Tinhamos. A viagem da Disney ficou perdida no tempo, os passeios noturnos em Ubatuba com você pentelhando os garotos que me olhavam na rua, o teu boa noite maninha quando tu recém chegava em casa, de madrugada. Tudo tinha ficado perdido no tempo. Parado. Dolorido.

Era madrugada ainda, quando te esperava. Não entendia o porque de tanta burocracia, o porque de tanta demora. Coisa estranha essa, ansiar para velar uma pessoa. Posso confessar uma coisa, Daniel? Eu ansiava somente para te ver de novo, de tar um último tchau e sussurrar no teu ouvido um boa noite maninho, para esse teu sono eterno. Porque, bem sei, tu descansarias sem a menor dificuldade, aceitarias a condição como se ela te fosse o melhor remédio, a coisa certa, o teu destino. E, embora eu não quisesse aceitar a condição de destino, eu força-me a aceitá-la, pois sabia que assim tu gostaria.

Quando o carro funerário chegou, o dia amanhecia, naquele tom de chuva que nunca gostei. Tiraram uma caixa de madeira escura de dentro de uma van branca e carregaram-na para dentro de uma capela, onde já haviam velas acesas. Uma dor rasgou meu peito ao me tocar que era tu quem estavas ali dentro daquele caixote, que era teu corpo que jazia ali, sem alma, para teu dormir e não mais acordar. Chorei com a chuva, Dan. Chorei com a chuva.

E uma outra dor me rasgou novamente o peito. Uma dor que demoraria a cicatrizar, isso SE cicatrizasse. Foi quando os moços avisaram que não haveria como deixar aquela caixa sem a tampa. Imaginei em que estado você se encontrava, meu irmão. Imaginei tua dor e fiquei feliz pelo teu descanço rápido. Seria demais te ver sofrendo, seria insuportável imarginar-te morrendo aos poucos. E eu sorri ao te sentir perto. Ao olhar ao meu redor e ver a cara de todo mundo que chorava, eu pude sentir que tu sabia da minha tranqüilidade e que tinhas ficado feliz com aquilo. Mas nada muda o fato Dan, nada muda o fato de nunca mais te ver sorrindo, nada muda o fato de nunca mais ouvir a tua voz rouca de sono, nada alivia a dor do "pra sempre".

Aquele dia, mano, eu aprendi a mandar beijo pelo vento. E a sentir abraço por ele, também.

3 comentários:

  1. Porque, bem sei, tu descansarias sem a menor dificuldade, aceitarias a condição como se ela te fosse o melhor remédio, a coisa certa, o teu destino. E, embora eu não quisesse aceitar a condição de destino, eu força-me a aceitá-la, pois sabia que assim tu gostaria.Entendi o que tu quis dizer, Bells. Porque eu senti igual, também.

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  2. nenhum texta tinha me feito chorar como esse...
    consigo imaginar o tamanho da tua dor pq também tenho um irmão amado assim.
    da onde ele tiver, tenho certeza que ele tá muito orgulhoso de ti.
    um beijo

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