quarta-feira, maio 20, 2009

24 de janeiro de 2008; noite.

Aquele dia foi inteiramente vazio pra mim. Depois do telefonema de uma moça de voz sofrida, escrevi um pequeno texto de "vá em paz" no meu blog todo desconfigurado e fora de coeração, pois não dava para somar um mais um e chegar a dois. Foram palavras soltas e vazias, como o que morou em meu peito. Incertezas, interrogações e um jeito todo humano de negar e não aceitar as coisas. Assim como muitos, eu não queria acreditar que aquilo era realmente verdade.

Ouvi Love in the afternoon na voz rouca de Renato Russo repetidas e seguidas vezes durante a tarde inteira. Nunca havia parado para pensar na letra e, aquele dia, veja só, ela pareceu feito luva, escrita para a situação, escrita para mim e para você. Meu verão tinha acabado cedo demais, uma peça ficaria faltando e não haveria nada que a pudesse preenxer. Seria um eterno e doloroso vazio.

A música me massageou a alma e tornava mais fácil e silencioso chorar, pois um choro soluçado não me faria ouvir a melodia e acompanhar a letra que eu cantava mentalmente. Vai com os anjos, vai em paz! Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade. Até a próxima vez. E a dor querendo arrancar meu coração de dentro de mim, lembrando das nossas eternas tardes de risos e compreensão. Nossa amizade era simples, era sincera. Dava pra sentir só pelo fato de respirar.

E essa mesma música embalou-me para um descanso. Ao deitar minha cabeça no travesseiro, abracei um outro, mais gordo, e chorei silenciosamente a tua perda e senti que era pra sempre, que seria um até breve demorado e que só em sonhos poderia te ver e ouvir a tua voz rouca, ver teu rosto de barba mal feita e o meu sorriso preferido. Não tardei a fechar os olhos, só para te imaginar, só para tentar sentir a tua presença. E senti.

Sem saber porquê, pude sentir que você estava ali. Era uma noite tranqüila, sem lua, sem vento. Digna de negrume de tristeza. E percebi você tão nitidamente que poderia jurar sentir teu perfume, ouvir a tua respiração vã. E acalmou-me saber que estavas em paz. Sentei-me na beirada da cama e abracei o vento-você. Era o nosso reencontro de férias. Era a nossa despedida.

Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre mais eu sei
Que você está bem agora
Só que este ano
O verão acabou
Cedo demais.

6 comentários:

  1. Uma historia ao mesmo tempo tão trist e tão bonita...
    Eterna, acima de qualquer outra definição.

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  2. É difícil lidar com a perda, forma linda de escrever sobre uma coisa tão dolorosa.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Acabei de acabar de ler todos os textos desse blog. Peguei o orkut de minha prima [já que nem tenho mais], e fui no orkut dele. E observei as fotos, uma por uma, com um sorriso no rosto.

    Entendi do porque de ser teu sorriso preferido, o dele.

    Hoje, lendo esse texto, com trilha sonora de Renato, eu fiquei com a garganta seca. Olhos molhados. E uma angústia, do lado de dentro. Coisa tua isso, Fê. De doer em palavras.

    Que bom que você tem Bella, pra ver pedaços dele. Que bom que nós temos o mundo, para você poder senti-lo. Ah, que bom poder ser emoção, lágrima, chuva...

    Dan é abraçado a cada texto bonito de vocês. Eu não duvido. E sorrio, com minha cara de choro feliz.

    Beijo, frô. Muitos beijos!

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  5. Fecha os olhos, Fê. E só imagina. Pensa com força e só. E pronto. Você o sente. E não, não é fruto de imaginação.

    Lindas palavras, lindas...

    :')

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  6. Sabe Dan, venho acompanhando o blog desde a criação e não tem um comentário meu até hoje, sabe porque? Porque, Fê e Bella, são tão fantáticas nas palavras e no amor por você que só consigo ler, calar-me e desejar junto com elas que você estivesse aqui...

    É bom te ler em cada palavra delas.

    coisa linda, coisas lindas!
    bjbjbjbjbj

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